terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Cem Mil Mulheres Negras

Cem mil mulheres negras
 
Venho aqui reproduzir o artigo do site Missões do Quilombo
A marcha foi idealizada, no refeitório do Tulip Inn Hotel, Salvador-BA, por ocasião do Encontro Paralelo da Sociedade Civil para o Afro XXI: Encontro Ibero Americano do Ano dos Afrodescendentes (16 a 20 de novembro de 2011) e será gestada até 28 de setembro de 2015. Trata-se de uma iniciativa da AMNB - Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras, mas, atente! A intenção é conseguir aglutinar o máximo de organizações de mulheres negras, assim como outras organizações do Movine (Movimento Negro), sem dispensar o apoio de organizações de mulheres e de todo tipo de organização que apóie a equidade sócio-racial. Sem dúvida, o protagonismo é de MULHERES NEGRAS BRASILEIRAS.


Data escolhida:

O ano de 2015 marcará os 320 anos do assassinato de Zumbi dos Palmares, o qual, como qualquer outra pessoa, teve mãe, e provavelmente, negra. O dia escolhido para essa grande marcha foi o 28 de setembro – “Dia da Mãe Preta”. Neste dia, no ano de 1871, foi assinada LEI Nº 2040, que veio a se chamar Lei do Ventre Livre. Tod@s nós sabemos que a referida lei, bem como a Lei do Brasil nº 3.270, de 28 de setembro de 1885 (Lei dos Sexagenários) e a Lei Imperial n.º 3.353, 13.05.1888 (Lei Áurea), não cumpriram a função para a qual pretensamente se destinavam; aliás, a Lei do sexagenário, ao fim e ao cabo, desobrigou dar apoio ao escravizado maior de 60 anos - os senhores puderam “botar no olho da rua” os escravizados, os quais não tiveram direito ao “FGTS”. A Lei do Ventre Livre, a rigor, pode ser considerada a origem do problema da criança abandonada (sobretudo negra). Acreditamos, por motivos diversos, que a marcha das 100 mil mulheres negras será importante para resignificar o Dia da Mãe Preta.

Assim, conforme diz nosso primeiro convite, marcharemos em homenagem às nossas ancestrais e em defesa da cidadania plena das mulheres negras brasileiras, porque:

- nós mulheres negras (pretas + pardas) somos cerca de 49 milhões espalhadas por todo o Brasil;
- o racismo, o machismo, a pobreza, com a desigualdade social e econômica, tem prejudicado nossa vida, rebaixando a nossa auto-estima coletiva e nossa própria sobrevivência;
- o fortalecimento da identidade negra tem sido prejudicado ao longo dos séculos pela construção negativa da imagem da pessoa negra, especialmente da mulher negra, desde a estética (cabelo, corpo, etc.) até ao papel social desenvolvido pelas mulheres negras;
- as mulheres negras continuam recebendo os menores salários e são as que mais têm dificuldade para entrar no mundo do trabalho;
- a construção do papel social das mulheres negras é sempre pensada na perspectiva da dependência, da inferioridade e da subalternização, dificultando que nós possamos assumir espaços de poder, de gerência e de decisão, quer seja no mercado de trabalho, quer seja no campo da representação política e social;
- as mulheres negras sustentam o grupo familiar desempenhando tarefas informais, que as levam a trabalhar em duplas e triplas jornadas de trabalho;
- ainda não temos os nossos direitos humanos (direitos civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e ambientais) plenamente respeitados.

O Convite-convocação é geral:

Temos interesse especial em mobilizar: meninas negras, adolescentes e jovens negras, do campo e das cidades; negras enfermeiras, negras professoras, negras empregadas domésticas, negras quilombolas, negras prostitutas, negras médicas, negras ligadas às religiões de matriz africana; negras cujos filhos/as foram assassinados pela polícia, negras lavadeiras, negras cozinheiras, negras da construção civil, negras cristãs (católicas, anglicanas, presbiterianas, batistas, testemunha de Jeová, assembleianas,...), negras desportista, negras artistas, negras atéias, negras portadoras de deficiência, negras regueiras, negras rapers, negras funkeiras; negras garis, negras empresárias, negras que conseguiram cursar o terceiro grau; negras cujos parentes foram assassinados nos episódios do Carandiru, Candelária, Vigário Geral, Eldorado dos Carajás e outros massacres; negras lésbicas; negras bissexuais, negras transsexuais; negras modelos, negras sem terra, negras atingidas por barragens, negras sem teto, negras ribeirinhas, negras extrativistas, negras não alfabetizadas; negras que foram mal atendidas no sistema de saúde). Ou seja, todas as mulheres negras, inclusive, e principalmente, as quem foram e/ou estão sendo discriminadas por vizinhos, por  médic@s, por dentistas e outros, mas que têm se sentido impotente diante de tão grande opressão.

O tamanho da marcha:

O Brasil tem a maior população negra fora da África e nós mulheres negras (pretas+ pardas) somos cerca de 49 MILHÕES, assim, 100 mil será apenas uma pequena delegação. Então, a idéia é viabilizar o deslocamento à Brasília, da representação de, pelo menos, 2.000 municípios (o total é 5.564), deverá sair um (01) ônibus, com 40 meninas-adolescentes-jovens-adultas-idosas negras.

Preparação:

Na capital de cada Estado haverá espaços de referências que agregarão uma ou mais organizações negras que funcionarão como Ife-nulé, (que significa referência, em yorubá). Cada Ife-nulé ficará responsável por garantir a capilaridade para os municípios, os quais poderão, por sua vez, ter seus próprios Ife-nulé.

O propósito maior:

O processo de mobilização e preparação será um dos maiores ganhos da marcha. Oficinas ligadas às mais diversas expressões da cultura negra de cada estado-município poderão ser realizadas; oficinas ligadas à geração de renda, de apropriação de novas tecnologias e outras, poderão servir de base para o estímulo ao aumento da auto-estima coletiva das mulheres negras deste país.

Chamamento à solidariedade:

AMNB – Articulação de Organizações de Mulheres Negras Brasileiras – convida a todas para construir e participar da Marcha das 100 mil mulheres negras. Nosso objetivo, entre outros, é exigir do estado brasileiro, bem como de todos os setores da nossa sociedade, respeito e compromisso com a promoção da equidade racial e de gênero, a fim de que possamos exercer plenamente os nossos direitos como cidadãs brasileiras e construtoras históricas do Brasil.
 O desafio é grande, mas, enfrentar problemas, até então, sempre foi especialidade DE TODA mulher negra!
 http://2015-marchadascemmilmulheresnegras.blogspot.com/

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