segunda-feira, 14 de março de 2011

O ÍNICIO DO PROCESSO DA ESCRAVIDÃO NA ÁFRICA

Existem muitas interpretações fora da África em relação de como os africanos enxergam o fenômeno da escravidão, situação pela qual foram submetidos durante muitos séculos os seus cidadãos. A maioria das narrações feitas por autores ocidentais apresenta um reflexo como se a escravidão fosse um comércio normal de qualquer mercadoria. O objetivo do presente trabalho é demonstrar primeiro como a escravidão foi enxergada pelos africanos e logo desvendar algumas questões ocultadas pelos ocidentais
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Na história da humanidade, a posição que a África ocupava antes da invasão européia era muito privilegiada. A chegada dos europeus não só marcou o inicio dos contactos entre a civilização européia e africana, mas também significou a destruição das sociedades autóctones( habitantes natural da África) que tinham criado instituições próprias e que funcionavam com certa estabilidade. Ao mesmo tempo, também significou a intensificação da nefasta atividade de escravidão que exauriu a África de braços e mentes por quase cinco séculos (Filho, 2000).
            Percebe-se que a escravização e a história africana narrada nos livros ou artigos ocidentais, são historia tergiversadas(cheia de rodeios enganosos) e até certo ponto, narradas com o único objetivo de demonstrar superioridade européia e americana em relação ao africano ou demonstrar a superioridade da raça branca sobre a negra. Quase sempre essas histórias escritas são acompanhadas por imagens pintadas com todo orgulho de africanos escravizados acorrentados e colocados nos diversos navios sem as mínimas condições humanas. Porém, o que os ocidentais não explicaram bem foi exatamente como iniciou esse processo de escravização - troca de trabalhadores, termo que era utilizado pelos reis africanos na altura -.  Justamente partindo deste fato, que o objetivo do artigo é explicar como na verdade se iniciou o processo da escravidão na África.
            É bom não esquecer que antes da chegada Européia, a África através dos seus diversos  impérios, reinos e dinastias, contava com instituições bem organizadas e estruturadas. Nos diversos impérios e reinados africanos, existiam pessoas que trabalhavam para a casa real, inclusive cidadãos europeus; mas poucos europeus desvelaram esse mistério e, nem narram que também foram colonizados pelos africanos, sobretudo a Espanha e Portugal.
            Os trabalhadores das casas reais realizavam distintas funções. Alguns cuidavam das plantações ou fazendas; outros eram guardas pessoais ou cuidavam das filhas ou filhos dos reis, que na verdade viviam em mansões de luxos. Muitos desses trabalhadores, depois eram aceites e incorporados a própria casa real. Os motivos eram diversos, alguns  como recompensa pela fidelidade perante os amos e outros por algumas histórias de amor – em muitos casos as filhas dos reis se apaixonaram de alguns trabalhadores da casa ou alguns filhos dos reis que se apaixonaram de algumas trabalhadoras.
            Então, quando chegaram os colonizadores e vendo como funcionava tudo aquilo, com trabalhadores dos reis ou imperadores realizando varias tarefas (divisão de trabalho), disseram aos reis africanos que pretendiam levar alguns dos trabalhadores para Europa para que estes desenvolvessem as mesmas funções que faziam nos seus países. Os reis africanos não viam nenhum impedimento nesse sentido, e aceitaram o pedido recebendo em troca fumos, armamentos e outras mercadorias européias. Os imperadores africanos  achavam que os seus trabalhadores iriam desempenhar as funções dignas de um ser humano, desconhecendo a priori que estes eram maltratados, castigados, escravizados quando chegavam ao continente Europeu e, sobretudo Americano. Foi por esse motivo que a escravidão durou muito tempo, já que quando os europeus voltavam para a África, informavam aos reis que os trabalhadores (escravos na denominação ocidental) estavam todos bem de saúde e trabalhando dignamente; os reis faziam mais e mais trocas de trabalhadores com os Europeus.
            Na verdade, se os reis soubessem que os seus trabalhadores iam ser escravizados, maltratados e obrigados a trabalhos forçosos, com certeza nunca iriam aceitar esse trato de enviar seus trabalhadores. O fator negativo neste sentido, é que na altura não existiam meios de comunicação, nem outras vias de comunicação para que os reis e o povo africanos em geral soubessem como estavam sendo tratados os seus parentes. A única teoria que se tinha é que os trabalhadores foram enviados para outros países, com vista a trabalharem honestamente para de esta forma melhorar suas condições de vida. Algo muito natural, relacionado inclusive com o fenômeno atual: trabalhadores dos países em desenvolvimento, que emigram para Europa ou América do Norte para buscar melhor emprego que lhes permita melhorar as condições de vida.
            Grosso modo, os livros ocidentais tergiversam totalmente essa história e a narram como se os reis tivessem uma verdadeira noção do que estavam acontecendo. Esclarecer ainda, que a troca de trabalhadores existia entre africanos e árabes, antes mesmo da chegada dos Europeus e os africanos pensaram que seria o mesmo processo. Entretanto, o cinismo e hipocrisia européia prevaleceram sobre a boa vontade e senso comum dos reis africanos; que sem o mínimo conhecimento facilitaram a escravização de seus cidadãos de forma cruel e desumana. 

Artigo retirado do site Artigonal:
 
Lito Nunes Fernandes
Doutorando em Economia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Mestre em Administração Financeira pela Universidade de Mondragón (Espanha).