A comunidade negra católica elaborou os dez mandamentos dos negros católicos que apontam um êxodo: saída de uma posição de grupo submisso da Igreja Católica para grupo participativo e também com direitos.
Veja OS DEZ MANDAMENTOS dos direitos dos negros católicos
1. Temos direito que nossa cultura seja reconhecida e integrada a vida diária da Igreja (Santo Domingo 249).
2. Temos direito a uma liturgia aculturada que valorize o fato de que somos um povo negro, filhos e filhas amados de Deus.
3. Temos direito a que os instrumentos musicais de nossa cultura (pandeiro, atabaque, agogô, berimbau...) participem ativamente do louvor ao Senhor nas celebrações.
4. Temos direito de ver nossos filhos e filhas fazendo papel de anjos nas coroações de Nossa Senhora e outras celebrações da Igreja.
5. Temos direito de ver mulheres e homens negros, entre os escolhidos para desempenhar as funções de ministros e ministras da Eucaristia e de diáconos casados, na mesma proporção populacional católica dos afrodescendentes.
6. Temos direito a que seja reconhecido o novo despertar vocacional para o sacerdócio dos jovens negros e a que estes não sofram nenhum tipo de discriminação no período de formação por haver cursado escolas de qualidade inferior nos cursos anteriores, etc.
7. Temos direito de ver aumentar o número de estudantes negros nas escolas católicas, assim como nas Pontifícias Universidades Católicas. Para tanto, temos o direito de organizar cursos alternativos com acesso para negros dentro dos recintos eclesiais.
8. Temos direito de ajudar a fazer uma revisão ampla dos catecismos, retirando deles todos os pontos de vista racistas contra o negro acumulados ao longo dos anos, fazendo assim surgir um novo catecismo aculturado.
9. Temos direito de ver as mulheres negras reconhecidas em sua vocação à vida religiosa nos conventos, sem ter de embranquecer-se previamente, e sim, ao contrário, vivenciando plenamente a cultura afro-brasileira recebida de Deus.
10. Temos direto a ter mais bispos e cardeais negros a serviço da Igreja nas regiões com predomínio de população afro-brasileira e nas demais regiões.
ÊXODO E AFRODESCENDÊNCIA
Os cinco séculos de escravidão ou exploração dos afrodescendentes na América Latina e Caribe, além da situação de miséria econômica e social, trouxeram-nos outra conseqüência grave: a auto-rejeição. De cada dez afrodescendentes da América Latina e Caribe oito, em diferentes níveis, negam sua identidade. O grande êxodo, a grande libertação que a comunidade afrodescendente está processando nesta atual fase é esta:
"Assumir a própria identidade como dom de Deus e condição básica para acelerar o processo de autolibertação, ajudando a sociedade a perceber e libertar-se de seus preconceitos, a partir da nova postura de autoconsciência dos afrodescendentes".
Sinais do novo êxodo
Nos quatro cantos da América Latina e Caribe percebemos os sinais deste novo êxodo. O que está sendo o eixo propulsor desta libertação é justamente a autodescoberta e autovalorização da própria comunidade afrodescendente e seus direitos. Eis alguns sinais:
"Assumir a própria identidade como dom de Deus e condição básica para acelerar o processo de autolibertação, ajudando a sociedade a perceber e libertar-se de seus preconceitos, a partir da nova postura de autoconsciência dos afrodescendentes".
Sinais do novo êxodo
Nos quatro cantos da América Latina e Caribe percebemos os sinais deste novo êxodo. O que está sendo o eixo propulsor desta libertação é justamente a autodescoberta e autovalorização da própria comunidade afrodescendente e seus direitos. Eis alguns sinais:
1) Cresce em toda América Latina e especialmente no Brasil o numero de negros e negras que passam a colocar em seu coração a opção por fazer um curso universitário.
2) Cresce o interesse e a valorização pelas articulações amplas na comunidade afrodescendente. É o caso do VII EPA (Encontro de Pastoral Afro-Americana e Caribenha) que aconteceu no ano 2000 em Salvador - Bahia.
3) Surgem em várias regiões da "Pátria Grande" associações para conscientizar e combater a anemia falciforme, doença que atinge, em maior proporção à população afrodescendente e que está causando muitas mortes por desconhecimento dos médicos e dos próprios doentes. A doença, cuja incidência é considerada alta, manifesta-se em pelo menos uma pessoa a cada 500 afrodescendentes. Daí a necessidade de lutarmos por políticas públicas.
4) As denúncias dos afrodescendentes passam a ser bem fundamentadas e está estão chegando as diferentes instâncias de poder do mundo. É o caso da OIT (Organização Internacional do Trabalho) que enviou carta ao governo brasileiro dando prazo até o ano de 1999 para apresentar um plano de políticas públicas para combater a discriminação contra mulheres e afrodescendentes no campo, da opção por empregos e valor do salário. Por exemplo: o salário médio dos homens brancos é de 6,3 salários mínimos e o dos homens afrodescendentes é de 2,9 salários mínimos. Das mulheres brancas é de 3,65 salários mínimos e das mulheres negras é de 1,7 salários mínimos.
5) Em 30 de janeiro de 1998, o divulgado um relatório sobre direitos humanos no mundo e na América Latina. O Brasil e vários países da América são apontados como possuidores de políticas militares discriminatórias que violentam e perseguem os afrodescendentes; que exploram e matam crianças de rua cuja maioria são afrodescendentes; que 5% da força nacional de trabalho são crianças entre dez e catorze anos.
6) Cresce em várias dioceses, com presença marcante de afrodescendentes, a conquista de espaços para se criar uma Liturgia Inculturada Afro. Em especial no Brasil, Panamá, Colômbia e Equador.
7) Cresce o apelo da comunidade católica afrodescendente ao Vaticano, no sentido de também escolher sacerdotes afrodescendentes para o serviço episcopal. A mais recente resposta de Roma foi à indicação do Pe. Gílio Felício (Presidente Nacional da Articulação dos Padres e Bispos Negros do Brasil) para Bispo Auxiliar de Salvador, Bahia, cidade cuja população, em sua maioria (85%) são afrodescendentes.
8) A comunidade negra elaborou os dez mandamentos dos negros católicos que apontam um êxodo: saída de uma posição de grupo submisso da Igreja Católica para grupo participativo e também com direitos.
9) Estar em êxodo é a grande condição básica dos filhos e filhas da "Pátria Grande". Queremos sair do lugar de marginalizados, situação imposta pelas relações culturais opressora para uma nova situação. Uma terra prometida pelo Deus-Vida, que é chamado de Tupã, Canaxinê, Olorum, Deus-Pai e Mãe, Nzambi, Javé.
(Texto publicado na Agenda Latino-Americana de 1999 Páginas 50-51)
Disponibilizado pela CNBB em Fev/04
Disponibilizado pela CNBB em Fev/04
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